Colunistas, Lifestyle

Por Tânia Nogueira

Não existe melhor lugar no mundo para se beber vinho do que Paris. A seleção dos vinhos costuma ser levada bastante a sério pelos restaurantes da cidade. Mesmo nos bistrôs mais simples, o garçom ou o proprietário sabem indicar o que combina com o quê. Nos cafés e brasseries, você encontra no mínimo um bordeaux simples, mas decente. Além de cafés e brasseries, outro estabelecimento bastante comum pelas ruas da cidade nos dias de hoje é o bar au vin, ou seja, o wine bar. Aí costuma ser o paraíso. Tem várias opções, de várias regiões, várias delas por taça.

Até na Galeries Lafayette você encontra bons vinhos para comprar. A loja de departamentos do Boulevard Haussmann tem o que eles chamam de La BordeauxThèque, com uma ótima variedade de vinhos, especialmente de Bordeaux.

Galeries Lafayette

Muita gente do mundo da moda está em Paris nestes dias para participar do Fashion Week e dos eventos paralelos. E outros tantos estão por aqui, no Brasil, morrendo de vontade de estar lá. Não precisa ser ligado em moda para querer estar em Paris. Eu sempre quero. Quero andar pelas ruas, ver os prédios, entrar nos museus, sentar nos cafés, experimentar a cozinha de um chef que tem sido comentado e, é claro, beber vinho, muito vinho, bom vinho.

Mas o grande segredo de Paris são as centenas de cavistes da cidade. Caviste é como originalmente se chamavam os donos de empórios de bebidas. Hoje se usa a palavra também para designar a loja em si. Na maioria das vezes são lojinhas pequenas, de bairro. Cada bairro de Paris tem várias delas. Cada habitante é fiel à pelo menos uma. Seus proprietários são homens e, hoje, mulheres que rodam o país em busca de preciosidades. Visitam vinícolas, descobrem lotes de ótima qualidade por bom preço buscam rótulos que fujam do comum.

Enfim, endereços para provar e comprar bons vinhos não faltam em Paris. Eu, no entanto, queria passar para vocês (que estão em Paris ou um dia estarão) os endereços mais bacanas. Então, consultei cinco mestres que entendem muito de Paris e mais ainda de vinho.

Jean-Luc Thunevin:

Conhecido como o bad boy de Bordeaux, Thunevin é o sujeito que fundou o movimento dos vinhos de garagem na França. Quase sem nenhum tostão, fez vinhos tão bons quanto os dos grandes châteaux. Como me disse em uma entrevista para meu blog, .CRU, o domínio do vinho, é também (ou principalmente) um grande apreciador de vinhos. Gosta de experimentar coisas novas e se aventurar. “Em Paris, vou ao La Maison des Millesimes para comprar vinhos antigos, que é a especialidade do lugar”, diz. “O Dono Thomas Noel é bastante jovem, mas trabalhou em Saint Emilion (onde está o Chateau Valandraud de Thunevin) vários anos. Depois, abriu esta pequena, mas muito seletiva, loja de vinhos. Lá se pode tomar antigos bordeaux, bourgognes maravilhosos e além de descobertas sempre muito boas. Thomas conhece pessoalmente cada produtor de cada garrafa que esta la na loja.”

Luiz Horta :

O jornalista Luiz Horta, colunista e blogueiro do caderno Ela do jornal O Globo, passa longas temporadas na França. Amigos do Facebook, costumo acompanhar suas andanças pelo mundo. Quando comecei a apurar este post, vi que estava justamente em Paris. Não resisti e pedi que ele me mandasse uma dica “Fui tomar chá no Mariages Frères e esbarrei num tesouro, novinho: um caviste só de champagne”, respondeu Luiz. “Dilettantes tem mais de 100 rótulos das bolhinhas,muitas vendidas por taça. Alguns dos grandes nomes estão lá, mas a graça são os desconhecidos. Eu fui apresentado a pequenos produtores na prova do mês e me encantei por Jacques Chaput. Agora é voltar e voltar”.

Manoel Beato:

Sommelier do Grupo Fasano e apresentador do programa Adega Musical na Rádio Estadão, Beato trabalha com vinhos desde a década de 80. Quem o segue no Facebook ou Instagram sabe que volta e meia ele prova Petrus, Romanée-Conti, Château d’Yquem e coisas do gênero. Ainda assim, Beato está sempre atrás de descobrir coisas novas.Em Paris, sugere um restaurante simples, com uma carta não muito extensa, mas esperta, o Le Baratin. “Eles têm sempre novidades”, diz Beato. “Coisas capazes de me surpreender. Apresentam vinhos que muitas vezes você não conhece.”

Arthur Azevedo:

Diretor-executivo da Associação Brasileira dos Sommeliers de São Paulo (ABS-SP) e um dos consultores mais requisitados na área de vinhos, Arthur viaja sempre para vários países para conhecer vinícolas, buscar produtores para importadoras que assessora e, também, beber e comprar vinho. Médico aposentado, é um homem prático. Em Paris, vai direto ao maior revendedor da cidade. “O melhor lugar para comprar vinhos em Paris, que é a Lavinia, a mais completa loja de vinhos e acessórios”, diz. “Além dos grandes vinhos, de safras novas e antigas, eles têm rótulos de pequenos produtores ainda desconhecidos, muito interessantes. Fica no Boulevard de Madeleine e é uma visita imperdível. Dá para almoçar por lá, pois a loja tem em seu interior um bistrô e muitos vinhos em taça, na Enomatic para degustar.”

Steven Spurrier:

Crítico da revista inglesa Decanter, uma das mais respeitadas quando se fala de vinho, Spurrier morou muitos anos em Paris. Ele era um caviste e tinha uma pequena escola para enófilos. Vocês já ouviram falar do Julgamento de Paris? Assistiram ao filme? Spurrier é o inglês que inventou essa história de fazer uma comparação às cegas entre os vinhos californianos e os europeus, prova que entrou para história por terminar com a vitória dos americanos em várias categorias (veja entrevista publicada originalmente no meu blog, .CRU, o domínio do vinho). Pedi a Spurrier que me indicasse um bom endereço em Paris. Ele indicou três pontos ideiais para quem não fala muito bem o francês: o Willi’s Wine Bar, o caviste/bristrô Juvenile’s e o restaurante/bar Fish (esse eu conheço e adoro). “Todos os três lugares pertendem a pessoas com quem eu costumava trabalhar na minha época de Paris”, diz Spurrier. “Mesmo com mais de 30 anos, o Willi’s Wine Bar, continua sendo um endereço obrigatório, um jovem clássico”. Ao lado do Palais Royal, o bar costuma reunir gente de todas as partes do mundo. O proprietário, o inglês Mark Williamson, diz que procura ter vinhos raros para serem bebidos por taça. Cerca de 12 opções por dia.

Outra indicação de Spurrier, o Juveniles é conhecido pela ótima oferta de vinhos do Vale do Rhonê por taça. Como o proprietário, Tim Johnston, é escocês, há sempre haggis (um tipo de buchada de bode escocêsa) e ótimos queijos e embutidos do Reino Unido. “Hoje a filha de Tim, Margaux, cuida do salão e seu marido, Romain Roudeau, na cozinha. A comida é ótima e há uma vasta seleção de vinhos à venda pelo preço de loja, não de bar.”

Já o Fish, a terceira indicação de Spurrier, é do neozelandês Drew Harre . Estive no Fish há uns 8 anos, jantando e provando vinhos brancos com uma amiga parisiense. Lembro que gostei muito. Tomamos várias taças e comemos muito bem. A seleção de vinhos realmente é ótima, mas a cozinha e o ambiente também atraem. “É um dos restaurantes mais divertidos de Paris”, diz Spurrier. “A comida muda todo dia e há uma ótima variedade de vinhos.”

Endereços:

Diletanttes – 22 rue de Savoie, Paris 6er.
Fish- 69 Rue de Seine, Paris 6er.
Juveniles, 47 rue de Richelieu, Paris 1er.
Lavinia – 3 Boulevard de la Madaleine, Paris 1er.
La Maison des Millesimes” 137 Boulevard Saint Germain, Paris 6er.
Willi’s Wine Bar, 13 rue des Petits Champs, Paris 1er.

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